Artigo – Bela, recata e do lar? Não é bem assim… – por Nayara Sousa*

Mário Flávio - 08.03.2017 às 10:06h

Não é de hoje que poeticamente se declara que a mulher é o sexo frágil, e meio que heroicamente necessita-se provar que é capaz de ultrapassar os limites impostos. Com a chegada do dia Internacional da Mulher, faço uma reflexão sobre o que representa esse dia para nós mulheres.

Facilmente seremos lembradas, homenageadas de diferentes maneiras e talvez até venhamos a nos sentir valorizadas. Mas, em um país onde existem claramente diferenças de gênero e remunerações, disseminação da cultura do estupro e objetificação da mulher, e índices absurdos de violência ao público feminino… não consigo sentir, de fato, motivos plausíveis para comemorar de forma mais intensa.

Somos a boa parcela da sociedade que atua bravamente em vários turnos. Somos a mãe, esposa, empresária, advogada, enfermeira, cozinheira, médica, motorista, psicóloga, faxineira, companheira, e tantas outras funções. Trabalhamos em um mercado altamente competitivo, a qual nos descrimina pelo simples fato de sermos mulheres. Chegamos aos nossos lares (exaustas) e iniciamos outra jornada, não menos fácil. Enfrentamos nossos dilemas e até a nossa fisiologia, que em alguns períodos não coopera. Se não trabalhamos para dedicação exclusiva do lar, ouvimos o universo declarar que escolhemos vida boa e paramos no tempo. Se nos dedicamos intensamente ao trabalho, vários olhares se voltam à julgar o abandono daquela que deveria ser, simplesmente a Bela, Recatada e do Lar.

É bem verdade que progredimos muito, vencemos grandes paradigmas e com muita força e coragem, estamos avançando. Lembro o que diz um dos intelectuais mais respeitados do Brasil, Mario Sergio Cortella, quando faz um comparativo entre o machismo e o feminismo: Machismo significa a concepção de que mulheres são subordinadas aos homens. O feminismo, por sua vez, não é o contrário de machismo. O feminismo não supõe que homens são subordinados às mulheres, mas que homens e mulheres são iguais. Não buscamos algo tão superior como parece e bem colocou o intelectual. Talvez a falta dessa compreensão, justifique o porquê de tantas desigualdades.

*Enfermeira Obstetra/Pedagoga e Professora Universitária