Na política, palavras não são apenas sons lançados ao vento, são instrumentos de poder, capazes de inspirar, dividir ou destruir. A forma como um líder se expressa revela não apenas o que ele pensa, mas também o quanto compreende a gravidade do cargo que ocupa. E é justamente nessa fronteira entre o discurso e a responsabilidade que muitos políticos falham, expondo a sociedade ao ridículo e, pior, à desinformação.
Quando, em meio à pandemia da COVID-19, o então presidente Jair Bolsonaro afirmou que não era “coveiro”, sua fala não foi apenas infeliz, foi um retrato cruel da insensibilidade diante de uma tragédia que ceifava milhares de vidas diariamente. Aquela frase, dita com desdém, ecoou como um tapa no rosto de famílias em luto e simbolizou o desprezo pela empatia e pela responsabilidade pública.
Agora, anos depois, outro extremo da mesma irresponsabilidade volta a se manifestar, desta vez nas palavras do presidente Lula, ao afirmar que “os traficantes também são vítimas dos usuários”. Uma declaração que, além de simplificar um problema complexo, distorce a lógica da criminalidade e confunde o debate público sobre segurança, responsabilidade e dignidade humana.
Essas falas, embora opostas em contexto e ideologia, se encontram no mesmo erro fundamental: o de banalizar assuntos sérios. Quando a liderança política transforma dor em piada ou crime em justificativa, ela mina a confiança nas instituições e deseduca o povo. O discurso do homem público precisa ser ponderado, equilibrado e consciente de seu impacto. Porque, goste-se ou não, cada frase dita de um púlpito oficial reverbera nas ruas, molda comportamentos e influencia gerações.
Prova disso é o que se viu após a pandemia: o descaso e o negacionismo em torno da vacina provocaram uma das maiores quedas nas taxas de imunização da história recente do Brasil, colocando em risco até mesmo doenças já erradicadas. Da mesma forma, quando o presidente relativiza o crime dizendo que “o bandido rouba um celular para tomar uma cervejinha”, transmite uma mensagem perigosa a de que o delito é quase compreensível, normalizando a violência e desmoralizando as vítimas.
O Brasil não precisa de líderes que falem o que querem, precisa de líderes que saibam o peso do que dizem. Afinal, em política, as palavras são atos. E atos inconsequentes cobram caro de uma nação já cansada de carregar o fardo da irresponsabilidade alheia.
Oscar Mariano é cientista político
