Justiça anula reeleição de Raul Henry e abre nova crise no MDB de Pernambuco

Mário Flávio - 30.10.2025 às 16:14h

O MDB de Pernambuco volta a viver mais uma disputa interna que expõe a divisão entre seus principais grupos políticos. A reeleição de Raul Henry à presidência estadual do partido, ocorrida em maio deste ano, foi anulada por decisão da juíza Bruna Araújo Coe Bastos, da 6ª Vara Cível de Brasília, após ação movida pelos diretórios municipais de Paulista e Bodocó.

A magistrada entendeu que houve irregularidades no processo de convocação e falta de isonomia na eleição interna, determinando a suspensão imediata do resultado da convenção estadual até nova decisão judicial. A sentença também suspende a anotação dos nomes eleitos para o biênio 2025–2027, incluindo o Diretório Estadual, a Comissão Executiva, o Conselho Fiscal e o Conselho de Ética e Disciplina.

“Defiro a tutela de urgência para determinar a suspensão do resultado da Convenção Estadual do MDB de Pernambuco, realizada em 24/05/2025, até ulterior decisão deste juízo”, diz o despacho judicial.

A principal alegação dos autores da ação é que o partido descumpriu o prazo mínimo de 15 dias para convocar os delegados, tendo feito o chamamento apenas nove dias antes da convenção. Além disso, a juíza apontou que houve acordo político entre os dois grupos majoritários do MDB sem o conhecimento de alguns diretórios municipais, o que teria comprometido a igualdade de condições no pleito.

Raul Henry, que derrotou o deputado Jarbas Filho na eleição interna, ainda pode recorrer da decisão. Ele foi procurado pela reportagem, mas não atendeu às ligações.

Reação do diretório estadual

Em nota divulgada na tarde desta quinta-feira (30), o Diretório Estadual do MDB de Pernambuco contestou a decisão da Justiça de Brasília e classificou o processo eleitoral como “limpo, transparente e democrático”.

“Todas as regras da disputa seguiram as normas do estatuto do partido e foram aceitas pelas duas chapas envolvidas no pleito, com a coordenação da Direção Nacional do MDB”, diz o comunicado.

O texto também cita que o próprio Jarbas Filho, candidato derrotado, reconheceu o resultado da convenção, afirmando à época: “Toda disputa tem um vencedor e um vencido. É a democracia interna do partido.”

“Hoje tomamos conhecimento, pela imprensa, de uma decisão judicial que suspende os efeitos da vontade soberana dos convencionais do MDB de Pernambuco, cinco meses após a eleição”, segue a nota.

O MDB estadual afirmou ainda que tomará todas as medidas jurídicas cabíveis para reverter o que chamou de “decisão estranha e surpreendente”, reforçando que vai defender “a verdade expressa pelo voto direto, livre e democrático dos convencionais do partido”.

Bastidores e disputa de poder

Nos bastidores, a decisão reacende a disputa interna pelo comando do MDB pernambucano, que se intensificou desde a convenção de maio. O partido está dividido entre um grupo ligado ao prefeito do Recife e pré-candidato a governador João Campos (PSB) e outro, mais próximo da governadora Raquel Lyra (PSD).

Com o impasse, há expectativa de uma possível intervenção da Executiva Nacional do MDB na direção estadual. O senador Fernando Dueire, que busca se fortalecer para disputar novo mandato em 2026, tenta se equilibrar entre os dois campos, mas não conta com o apoio de Raul Henry.

A nova decisão judicial adiciona mais um capítulo de crise à já conturbada história recente do MDB em Pernambuco, que segue dividido às vésperas de um ciclo eleitoral decisivo.