Opinião – O que fazer com Marina? – por Mário Benning*

Mário Flávio - 26.08.2014 às 07:55h

Getúlio Vargas tinha uma máxima interessante sobre como conduzir uma campanha eleitoral: “Não se briga com quem usa saia: mulheres, juízes e padres.” Nas campanhas atuais essa regra foi ampliada, para não brigue com ninguém! Afinal, existe quase que uma unanimidade, uma regra áurea na política, quem agride demais perde votos.

E esse é o grande desafio tanto do PT quanto do PSDB nessa altura da disputa. Como interromper a ascensão de Marina sem ser agressivo demais? Sem se indispor com seus eleitores num eventual segundo turno? Se se criticar a sua religiosidade, pode criar suscetibilidade com o eleitorado mais fervoroso, principalmente o evangélico pentecostal. O uso do tema ambiental, ou a crítica ao seu programa de reformas pode afastar o eleitorado mais jovem e o mais escolarizado. Se o caminho for a de sua inexperiência na gestão, existe um antídoto, Lula não governou nada antes de ser presidente, e fez uma gestão bem avaliada nacional e internacionalmente.

Esse é o desafio que se acampou nas coordenações de campanha de Aécio e Dilma. Até a morte prematura de Eduardo Campos, parecia que teríamos a velha polarização entre o PT e o PSDB, e a reedição dos mesmos discursos. Bastava ao PT lembrar as privatizações, o neoliberalismo e a interrupção das políticas sociais, e ao PSDB, era requentar o mensalão, bramir a ameaça de bolivarização do país e o fantasma da inflação. Numa verdadeira disputa polarizada.
O novo nesse momento, é que com a entrada de Marina ele subverte a lógica eleitoral em curso, e torna necessária a elaboração de novas estratégias e táticas para lidar como o fenômeno marineiro.

Boa parte da força desse fenômeno vem da forma como Marina penetra no eleitorado nacional, em duas vias, por cima e por baixo. Por cima, atraindo o eleitorado mais escolarizado que há anos vem como uma outsider da política brasileira. E por baixo com os de menor renda, que se identificação com a sua trajetória pessoal, de alguém que saiu da pobreza e hoje aspira à presidência do país.

Sendo a partir de agora, o maior desafio dessa eleição a desconstrução da candidatura de Marina, interrompendo assim a sua curva ascendente na disputa. A imprensa já divulga que as intenções de voto para Marina em Minas Gerais já superam as de Aécio, e nacionalmente num eventual segundo turno ela venceria Dilma. O que levou as coligações a acenderem a luz vermelha de suas estratégias, de evitarem que Marina vire um movimento de massas e se torne uma onda temporária.

Desidratá-la passou a ser a palavra de ordem, como foi feito com Ciro Gomes em 2002, ou como Russomano na eleição para prefeito em São Paulo.
Os ataques já estão em curso, e com vários discursos sendo testados por membros de ambas as coligações adversárias, porém todos apelam para o medo. E vai desde a implantação de uma ditadura clorofílica evangélica, a paralisia das obras de infraestrutura e do agronegócio do país. E há uma suposta crise institucional pela sua recusa em se articular com os partidos tradicionais, uma nova Jânio Quadros, associado ao viés autoritário da sua personalidade.

O grande problema é que da mesma maneira que Obama em 2008, Marina está sendo percebida como a encarnação de um sentimento, e de uma ideia, o verbo que se faz carne. E como se combate uma ideia? Principalmente uma que é desejada por todos, a reforma política e ampliação da cidadania, independente da filiação política partidária.
Numa sociedade em que o mito do sebastianismo permanece latente, ela é vista como a enviada divina, ou heroína, que nos purgará de nossas mazelas políticas e sociais.

A redentora que porá fim ao nosso sistema politico anacrônico e corrupto, e que tanto o PSDB quanto o PT não reformaram e até utilizaram para governar. O slogan de Obama até poderia ser traduzido para as terras tupiniquins para caracterizar o clima nesse momento “Sim, nós podemos.” Se ela vai ter, se eleita, condições de entregar o que está sendo prometido ou desejado, é outro detalhe.