Artigo – Três não é demais – por Sandro Vila Nova*

Mário Flávio - 14.09.2015 às 10:00h

Dizem que um é pouco. Aí inventaram de haver reeleição para os cargos do Executivo. Dizem que dois é bom. Aí quem ocupa o cargo de presidente, de governador, de prefeito acha que pode colocar em sua posição “um poste”, “um técnico” ou arranjar uma outra forma de nepotismo cruzado ou troncho, como queiram, para dar continuidade ao governo (aos mandos e desmandos) que sua dinastia inaugurou. Dizem que três é demais. E não se admite uma “terceira via”, uma novidade além da eterna luta situação versus oposição. Será mesmo?
 
Aqui no famoso País dos Barbalho e na Terra dos Condé são tradicionais as alternâncias entre os “Éles”, os “Gês”, e os “Quêz”. É tradição se encenar assim a nossa história mais recente. Tem nesse palco ou tabuleiro também “os Gês abnegados”, “os Erres fundadores”, “os Cês de sempre”, todos “avôs, pais e filhos do futuro de Caruaru”. Há uns tantos outros figurante-satélites que orbitam essas lideranças. As torcidas organizadas do encarnado e do azul (às vezes com um amarelo no meio) fazem festivo o pastoril da nossa multicultural fauna folclórica política, que há dezoito, cinquenta e quatro anos ou tantos tempos quanto acompanhemos a arte do impossível, aquela de se buscar o bem comum.
 
Diante do pleito eleitoral vindouro, as articulações para a correlação de forças seguem a passos largos rumo à disputa nas urnas. Muito se especula. Muito se contabiliza. De certo, haverá uma eleição com mais de duzentos mil votos a serem conquistados, em dois turnos, talvez.
 
Essas articulações são feitas ora na surdina, ora no jornal, rádio e tevê. Expor um candidato pode ter o condão de medir sua viabilidade, pesquisando até que ponto valerá o investimento na empreitada e no empreendimento. O “negócio da China” ou o “caminho das Índias” é algo grandio$o… Talvez, expõe-se um candidato (ou uma candidata) somente para queimar o cartucho e esquentar o cano, preparando a munição mais pesada para a hora certa. De um jeito ou de outro, a exposição permanente de nomes e caras-e-bocas é o objetivo do “marquetingue”, ou seja, faz parte da regra do jogo.
 
Novelas e representações de papeis bem definidos à parte, o caminho escolhido parece se repetir muito, com beleza e diversidade de cores e gentes, o que faz essa terra das artes figurativas pulsar com notícias constantes de quem vai ser páreo ou pule de dez na corrida de dezesseis.
 
São várias nomenclaturas criadas pelos asseclas dessas castas (módulos, células, grupos, chapinhas e chapões etc.), mas o sentido é o mesmo: segmentação dos candidatos pelo suposto número de votos que extrairão (com culpa ou sem culpa) do eleitorado ávido por se alinhar a essas “lideranças” bem-nascidas.
 
Os nascidos “na cabeça” dessa forma de fazer política, os da casta superior, são os que já foram testados (e aprovados?!) nas eleições anteriores e que alcançaram as posições que hoje ocupam ou alternam no poder local. São vereadores “de mandato”, são secretários, e diretores, e superintendentes, e até gente que “só contribui no trabalho de bastidores” sem tanta projeção e exposição. À esses bem-nascidos caberia dizer o que devem fazer (se devem se candidatar e em quem devem votar) aqueles outros, os nascidos nos braços e pernas (que trabalham e fazem o município crescer e se desenvolver, às vezes “inchar”), os nascidos nos pés (que servem com mau-humor ou com muita vontade de ajudar os usuários), e até os abortados ou natimortos políticos, ou mesmo os finados sociais que, ainda que não votem, tenham parentes com Títulos de Eleitor nas mãos, além de pires e alguma necessidade a ser atendida pelo assistencialismo.
 
No ano que vem cada apostador escolherá uma casta para torcer? Só há o caminho de quem está no poder ou o de quem estava e quer voltar ao poder? Ainda que “trifurcado”, esse caminho leva para o mesmo lugar. Dizem os mais conformados. Demasiadamente conformados. Ao bem da verdade, há sempre aqueles apostadores mais interessados no “dez para um” do que no “três para um”, pois aumenta dos ganhos no final. E há quem não aposte, só construa os seus resultados acordando cedo e cuidando da vida.
 
O resultado das urnas de dezesseis poderá ser, mais uma vez, obtido por forças não tão “ocultas” como o abuso do poder econômico, o fisiologismo, o toma-lá-da-cá. Todavia, não surpreenderá se as pessoas já tenham se cansado e compreendido que se venderem por uma necessidade imediata impede a chance de melhorar de vida mais adiante. E não valeria à pena, pelo menos por quatro anos, ficarmos cativos com uma das três torcidas. Não surpreenderia porque se viu, por exemplo, que faltou combinar o resultado da escolha para presidente da República na eleição do ano passado aqui em Caruaru. E faltou combinar o Plano de Cargos, Carreiras e Vencimentos para professores da rede municipal. Faltou ensaiar melhor, também, a “melhor de três” da transferência da Feira da Sulanca. Faltou o episódio da revisão do plano diretor nessa temporada. Faltou e falta tanta coisa…
 
O que é melhor que três? Quatro cinco ou seis. Sete, oito ou nove? Não importa. Quantas candidaturas sejam! Vale mais para todos nós conhecermos bem cada um dos que se lançarem na disputa. E mais: entender o que é (não só representa) cada uma das propostas e projetos para a cidade, de fato, como realidade viável e exequível (as boas ideias e onde buscar os recursos para pô-las em prática). Entender, que fique bem entendido, o que representa uma nova força para tirar dessa condição de exclusão de serviços e benefícios aqueles historicamente menos favorecidos (os indesejados). Benefícios não só para uma ou duas ou três famílias, porque o tal poder que emana de todos deve ser exercido em nome de todos e para todos os que fazem esse ente colocado distante por seus governantes, o ser social chamado povo.

*Sandro Vila Nova é servidor público, concidadão convicto de que Caruaru precisa ser livre e para todos.