Direita vence eleição na Bolívia após mais de 20 anos de governo de esquerda

Mário Flávio - 20.10.2025 às 08:01h

Em uma virada histórica, o país andino da Bolívia celebra um novo capítulo político: o senador de centro-direita Rodrigo Paz Pereira foi eleito presidente após derrotar o rival Jorge “Tuto” Quiroga na disputa de segundo turno, encerrando mais de duas décadas de domínio do partido Movimiento al Socialismo (MAS). 

O que os resultados mostraram
• Paz obteve cerca de 54–55 % dos votos no segundo turno, enquanto Quiroga ficou com 45 %. 
• O partido MAS, que vinha governando o país praticamente ininterruptamente desde meados dos anos 2000, sofreu derrota expressiva, com desempenho histórico muito abaixo. 
• A eleição de 2025 marca a primeira vez que uma disputa presidencial boliviana exige um segundo turno — e também representa a ruptura formal com a hegemonia de esquerda. 

Durante os anos de governo do MAS, sob Evo Morales e posteriormente Luis Arce, o país adotou políticas de forte intervenção estatal, nacionalização de recursos e reafirmação da identidade plurinacional. 

Contudo, um acúmulo de fatores contribuiu para o desgaste desse modelo: crise econômica, inflação elevada (em torno de 23 %), desabastecimento de combustíveis, escassez de dólares no país e crescente cansaço da população com a falta de dinamismo econômico. 

Além disso, o bloco de esquerda apareceu dividido e enfraquecido, abrindo caminho para que forças da oposição ganhassem tração justamente num momento de insatisfação generalizada. 

O que promete a nova administração

Rodrigo Paz chegou à vitória com uma plataforma de “capitalismo para todos”, prometendo manter programas sociais essenciais enquanto abre espaço para o setor privado, atrai investimentos estrangeiros e reformula partes da economia que ficaram travadas. 

Segundo indicações, seu governo buscará:
• Reduzir gradualmente subsídios a combustíveis. 
• Ajustar o câmbio e restaurar reservas externas. 
• Reaproximar a Bolívia de mercados e instituições internacionais. 

Os desafios que se avizinham

Apesar da vitória, o cenário para o novo presidente não é tranquilo. Ele herda um país com grandes fragilidades: alta inflação, economia dependente de exportações de gás, deficiências na governança e a necessidade de negociação com um Legislativo que não lhe dá maioria automática. 

Além disso, há temas sensíveis, como a relação com povos indígenas, o setor de cultivos de coca (muito politizado no país) e a necessidade de garantir que a mudança política não gere instabilidade social. 

Por que isso importa

Essa transição na Bolívia reflete uma tendência mais ampla na América Latina: países que, após longos períodos de governos de esquerda ou centro-esquerda, passam a buscar rumos distintos diante de insatisfação econômica e promessas de renovação. A vitória de Paz poderá marcar o início de uma nova era para a Bolívia — mas a efetividade das mudanças dependerá da combinação entre reformas e estabilidade social.