A confirmação do deputado federal Guilherme Boulos (PSOL-SP) como novo ministro da Secretaria-Geral da Presidência da República provocou uma reviravolta no cenário político de São Paulo e deve impactar diretamente as eleições de 2026. Com sua saída e o afastamento de outros três campeões de votos, os quatro deputados federais mais votados do estado em 2022 não devem disputar a reeleição, deixando mais de 3 milhões de paulistas “órfãos” de seus antigos candidatos.
Em 2022, Boulos recebeu mais de 1 milhão de votos, o maior número entre os candidatos a deputado federal em São Paulo. Logo atrás vieram três nomes ligados ao ex-presidente Jair Bolsonaro: Carla Zambelli, com 946 mil votos; Eduardo Bolsonaro, com 741 mil; e Ricardo Salles, ex-ministro do Meio Ambiente, com mais de 640 mil votos. Todos, por diferentes motivos, devem ficar de fora da corrida eleitoral no próximo ano.
Disputa por heranças políticas
A movimentação já começou nos bastidores. No campo da esquerda, o PSOL e o PT articulam para tentar herdar parte do eleitorado de Boulos. O novo ministro, segundo dirigentes do PSOL, pretende apoiar um nome de confiança para substituí-lo nas urnas — entre as possibilidades estão a advogada Natália Szermeta, sua companheira, e a deputada estadual Ediane Maria. Internamente, porém, a avaliação é de que nenhum nome conseguirá repetir o desempenho de Boulos, e os mais de 1 milhão de votos tendem a se distribuir entre diferentes candidatos da esquerda.
Já na direita, a dispersão deve ser ainda maior. Carla Zambelli, que está presa na Itália e foi condenada a mais de 15 anos de prisão pelo Supremo Tribunal Federal (STF), tenta preservar o capital político da família lançando a mãe, Rita Zambelli, como candidata à Câmara e apoiando a reeleição do irmão, Bruno Zambelli, deputado estadual. Inelegível, a deputada ainda responde a processo de cassação do mandato.
Enquanto isso, Eduardo Bolsonaro (PL-SP) vive nos Estados Unidos desde fevereiro e, segundo aliados, não deve retornar ao Brasil por temer uma possível prisão. O quarto colocado, Ricardo Salles, hoje filiado ao Novo, também estuda caminhos fora da disputa legislativa, avaliando outros projetos políticos e partidários.
Efeito nas urnas de 2026
Com a ausência dos quatro principais puxadores de votos paulistas, os partidos enfrentam o desafio de reter o apoio de um eleitorado estimado em mais de 3 milhões de pessoas, distribuído entre campos ideológicos opostos. Especialistas avaliam que o cenário abrirá espaço para novas lideranças e pode alterar significativamente a formação da bancada paulista na próxima legislatura.
Ao assumir a Secretaria-Geral, Guilherme Boulos afirmou que permanecerá no cargo até o fim do governo Lula e que sua prioridade será reorganizar a base de movimentos sociais em apoio ao projeto de reeleição do presidente. A nomeação, além de reforçar o elo entre o Planalto e os setores populares, muda o tabuleiro político do maior colégio eleitoral do país — e promete tornar a disputa de 2026 em São Paulo uma das mais fragmentadas e imprevisíveis da história recente.
