Nordeste sob o foco: o esquema do Primeiro Comando da Capital no setor de combustíveis e lavagem de dinheiro

Mário Flávio - 05.11.2025 às 09:15h

Uma investigação policial deflagrada nesta quarta-feira, 5 de novembro de 2025, lançou luz sobre um esquema sofisticado de lavagem de dinheiro ligado à facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC), que abrange diversos estados do Nordeste e Norte. A Operação Carbono Oculto 86 resultou na interdição de 49 postos de combustíveis nos estados do Piauí (PI), Maranhão (MA) e Tocantins (TO). 

Segundo a investigação, o grupo utilizava empresas de fachada, fundos de investimento e fintechs para fraudar o mercado de combustíveis, ocultar patrimônio e lavar recursos em favor do PCC.  Investigadores revelam que movimentações financeiras suspeitas ultrapassam R$ 5 bilhões até o momento. 

Foram apreendidas aeronaves e carros de luxo, enquanto os bloqueios de bens e mandados de busca e apreensão já ocorrem em múltiplas localidades. 

Ações no Maranhão e Tocantins

  • No Maranhão, a operação identificou postos interditados nos municípios de Caxias, Alto Alegre e São Raimundo das Mangabeiras.  
  • No Tocantins, foi interditado pelo menos um estabelecimento no município de São Miguel do Tocantins.  

A ação conjunta em três estados reforça que o esquema não está restrito a uma região, mas se espalha e se articula com forças nacionais de lavagem de dinheiro, utilizando o setor de combustíveis como canal de infiltração.

O que foi apurado

  • A facção usava postos de combustíveis como “empresa de fachada” para inserir dinheiro de origem ilícita (tráfico, contrabando, etc.) no circuito legal.  
  • Empresas de fachada, fundos de investimento e fintechs eram usadas para “lavar” os valores e ocultar os verdadeiros beneficiários.  
  • A cadeia abrange desde a importação e distribuição de combustíveis até a comercialização e serviços associados (lojas de conveniência, etc.).  

Por que isso importa para o Nordeste

A presença dessa estrutura no Nordeste — com bloqueios de postos, apreensão de bens e movimentações financeiras gigantescas — revela que o crime organizado ultrapassou o padrão tradicional de atuação restrito à segurança pública (violência, tráfico) e se enveredou por uma grande engenharia financeira no setor formal.

Para estados como Pernambuco, por exemplo — onde o volume de combustíveis e transportes regionais é considerável — o alerta é duplo:

  1. Risco de infiltração de recursos de crime organizado em negócios aparentemente legítimos.
  2. Prejuízos à arrecadação estadual e municipal, já que a sonegação e fraude no setor afetam diretamente tributos e serviços públicos.

Desafios para o combate

  • A ocultação via fintechs e fundos de investimento torna a rastreabilidade difícil. Muitas operações são registradas de modo dissimulado.
  • A articulação entre vários estados exige cooperação interestadual, federal e órgãos como a Receita Federal do Brasil, a Polícia Federal e os Ministérios Públicos estaduais.
  • O impacto econômico e social da lavagem de dinheiro inibe o desenvolvimento legítimo dos setores, cria concorrência desleal, e agrava a vulnerabilidade de pequenos empresários que operam dentro da lei.

O que está em jogo

Se o esquema denunciado se confirmar em toda sua magnitude, os estados nordestinos e do norte correm risco de ver ampliada a influência de organizações criminosas no setor produtivo. Ou seja: não apenas a violência visível, mas também a geografia econômica e social pode ser afetada.

Para a sociedade, isso significa: maior atenção ao crédito, licenciamento, fiscalização de empresas de combustíveis; para o poder público, representa urgência em fortalecer auditoria, cooperação intergovernamental e instrumentos de transparência.