
Em uma sociedade que ainda engatinha no reconhecimento das múltiplas formas de maternidade, as mães atípicas — aquelas que cuidam de filhos com deficiência ou transtornos do desenvolvimento — carregam uma sobrecarga silenciosa, muitas vezes invisibilizada pelo poder público e pelas estruturas sociais. Elas não apenas enfrentam os desafios cotidianos da criação de seus filhos, mas o fazem em um sistema que pouco ou nada oferece em termos de suporte real e efetivo.
Foi nesse contexto que apresentamos um projeto de lei que merece atenção: a criação do Programa Municipal de Empreendedorismo para Mães Atípicas. A proposta visa garantir a essas mulheres algo básico, mas constantemente negado: o direito à autonomia financeira.
O programa prevê cursos de qualificação, acesso a microcrédito com juros reduzidos, feiras inclusivas, espaços digitais de divulgação, além de redes de apoio e acompanhamento. Ou seja, não se trata apenas de oferecer um curso aqui ou uma ajuda pontual ali. A ideia é construir uma estrutura que permita a essas mães empreender com dignidade, planejar o futuro e ter sua força reconhecida.
Mais que uma política pública, esta proposta é um ato de reparação social. Afinal, são mães que, por muitas vezes, precisam abandonar o mercado de trabalho formal para cuidar integralmente dos filhos. E não porque querem — mas porque não há creches inclusivas suficientes, não há políticas de apoio familiar, não há flexibilidade nas relações de trabalho. Há, isso sim, um abismo entre o que o Estado oferece e o que essas mulheres realmente precisam.
Um dos pontos mais sensíveis e acertados da proposta é garantir prioridade às mães em situação de vulnerabilidade social. Porque, além da sobrecarga emocional e física, muitas enfrentam também a pobreza, o desemprego e a exclusão digital. A iniciativa ainda propõe parcerias com entidades públicas e privadas, o que pode ampliar o alcance e a efetividade do programa.
Porque valorizar as mães atípicas é também valorizar as crianças e jovens com deficiência. Quando uma mãe tem condições de se desenvolver, de gerar renda, de não depender exclusivamente de políticas assistencialistas, toda a estrutura familiar se fortalece. Mais ainda: a sociedade se torna mais justa, mais empática e mais eficiente.
Essas mulheres dedicam grande parte da vida ao cuidado dos filhos e muitas vezes ficam sem oportunidade de trabalhar. Queremos dar condições para que elas possam empreender, gerar renda e conquistar mais autonomia.” E é exatamente disso que estamos falando: de autonomia, reconhecimento e justiça.
*Jorge Quintino é vereador de Caruaru.