Existe um ditado espanhol que marca bem o confronto existente entre a racionalidade e o misticismo: “Eu não creio em bruxas, mas que elas existem, existem.” É muito difícil fugir dos mitos, quando eles se impõem com a força fria e dura da realidade. E um desses mitos, que já faz parte do cotidiano e do calendário político nacional, é que o mês de agosto é o mês das tragédias e das crises políticas, o mês do cachorro louco.
No território nacional não são poucos os fatos que ajudam a cristalizar essa fama de agosto, como meses de agouro destacam-se: o ápice da comoção pelo assassinato de João Pessoa, o suicídio de Getúlio Vargas, a renúncia de Jânio Quadros, o afastamento de Costa e Silva quanto estava prestes a conduzir o país à normalização política, a morte de JK, o auge da crise que leva ao impeachment de Collor, a crise do mensalão do PT.
Mito, esse agora reforçado pelo acidente que vitimou o presidenciável Eduardo Campos.
A notícia embora esteja tendo uma repercussão incalculável aqui em Pernambuco, ela jogou o Estado num verdadeiro limbo, com a população em transe sem saber como assimilar o fato. Afinal foi um evento que catalisou pelos elementos contidos nessa tragédia, elementos individuais, políticos e familiares.
Há um conteúdo de pessoal, já que ele estava no auge da sua carreira política, almejando a presidência do país. Teve um desempenho brilhante no dia anterior ao ser entrevistado pelo Jornal Nacional e estava confiante com o início do guia eleitoral. Ao ter a sua vida ceifada num acidente brutal como esse, provoca automaticamente um sentimento de identificação e nos lembra de uma maneira rápida e cruel da transitoriedade e fragilidade da vida.
Uma tragédia familiar, pois é praticamente impossível não nos colocarmos no lugar da mãe, da esposa e dos filhos. De pensar em como uma morte tão dura irá marcar os membros dessa família, de não nos colocarmos no local da mesma.
E é também uma tragédia política, numa eleição que vem sendo marcada pelo acirramento e tensão. A sua ausência embaralha e invalida todos os cenários e estratégias que vinham sendo montados, tanto em nível nacional, quanto estadual. Embora seja cedo para avaliar o impacto da sua morte nos resultados das pesquisas e de projetar como ela irá interferir no resultado final.
Não se pode negar o fato que a morte trágica, de uma liderança política, traz um conteúdo emocional para a campanha. Diz-se que a camisa ensanguentada de Lincoln elegeu três presidentes, a morte de Getúlio adiou o golpe por dez anos e elegeu JK e a de Kennedy elegeu Lyndon Johnson. E sem sombra de dúvida o seu falecimento, transformou certezas em dúvidas e mais do que nunca trouxe o imponderável para a disputa nacional e estadual.
Se em vida Eduardo Campos já tinha escrito o seu nome na história pernambucana, com a sua morte ele grava a ferro e fogo sua trajetória à história do país.
*Mário Benning é professor e analista político