Opinião – Eleições e o voto dos Evangélicos – por Paulo Naílson*

Mário Flávio - 08.09.2014 às 10:25h

Prá começo de história, se nem todo gato é pardo, porque é tão difícil entender que nem todo evangélico é alienado o massa de manobra, ou fndamentalista? Pois bem, com o crescimento constante do número dos que se dizem convertidos a fé cristã no Brasil, vemos a cada vez mais o olhar do mercado sobre eles, evidente que no cenário eleitoral aconteceria o mesmo.

Só esta semana acompanhei em publicações nacionais como as revistas Exame e Carta Capital, no Jornal do Brasil e em sites como o da UOL, e, em Caruaru uma excelente entrevista publicada no Jornal Extra de Pernambuco trás respostas bem esclarecedoras sobre o tema.
Esta semana resolvi falar sobre o assunto não para defender ou atacar, mas ajudar a entender.

Primeiro quem me conhece sabe que tenho minha formação política forjada no cotidiano de movimentos sociais (MST e MTST), em marchas e ocupações, são mais de 20 anos participando de plenárias e congressos sendo a maioria delas enquanto estive filiado ao PT, ajudando a fortalecer luta sindical, defendendo as reformas Urbana, Rural e agora Constituinte; participando da formação de grupos de trabalho de organização popular; em várias frentes de ação não sendo necessária (na maioria delas) exposição pública e consigo conciliar essas atividades com a fé que tenho num Deus que intervém na história e que nos quer, enquanto no mundo, como agentes de transformação social. Tenho na história do passado e do presente, diversas pessoas que deram exemplo de doação e dedicação a serviço do próximo ou de uma sociedade mais justa, sendo vários destes pagando com a própria vida por esta opção.

Gostaria de ver a chamada bancada evangélica, que se dedica com tanto empenho e zelo contra a legalização do aborto, os jogos de azar, os símbolos religiosos e outros sintomas de idolatria, os comerciais de cigarro, o kit gay, o casamento homossexual, o adultério, etc. mostrarem o mesmo discurso afiado e garra diante dos assaltos aos cofres públicos, a corrupção institucionalizada e impune, a gula das quadrilhas federais, a compra e venda de votos, os contratos de aluguel, as coalizões cafajestes e outras delinquências, sem falar das mazelas sociais gritantes. Em vez disso, percebo nesses itens conivência, tolerância, cumplicidade por ação ou omissão, deputados com processos por suspeita em crimes como peculato (apropriação de bens ou valores públicos de forma indevida), improbidade administrativa, corrupção eleitoral, abuso de poder econômico, sonegação fiscal e formação de quadrilha. Entre as igrejas representadas por esses deputados, a Assembléia de Deus é a denominação com mais parlamentares envolvidos em escândalos, e não pense que é a minoria da bancada, é a maioria mesmo.

Por esse motivo, nunca decidi meu voto por um candidato pelo fato dele ser ou não evangélico, e me esforço para que mais cristãos possam refletir sobre isso, o que devemos levar em conta são os mesmos itens que deveríamos observar em qualquer postulante: histórico, conduta, coerência e propostas, etc. Mas não é de hoje que se preocupam tanto com os crentes, de fato hoje quem se inquieta com a possível força de Marina entre os evangélicos desde a primeira campanha para presidente de Lula viu se formar comitês dos chamados cristãos progressistas pró-Lula. E naquela época ainda tínhamos que combater pastores assustados com a possível chegada do operário “comunista” ao poder, pois iria fechar as igrejas e perseguir os irmãos.
Então há questões e outras questões que precisam ser analisadas e avaliadas quando se falar em voto dos evangélicos.

Há variáveis mais profundas. Por mais que no púlpito ainda existam pastores que queiram controlar seus “rebanhos” estes estão cada vez mais conscientes e críticos, se ainda não está no ideal, mas é algo progressivo e que tende a aparecer mais. Enquanto evangélicos devemos deixar de lado os possíveis benefícios que teremos para nossa comunidade eclesiástica (redução de impostos, ajuda na construção de templos, etc) e estabelecer sintonia com as mudanças desejadas pelo povo: mais desenvolvimento, mais políticas públicas, mais emprego, mais salário, mais democracia, etc.

O PT PARA ONDE VAI? Há um ódio visceral ao petismo, ao lulismo e a Dilma. Isso é uma realidade tanto em parte da direita que tenta voltar ao poder quanto em parte da militância de Marina. Mas PT do jeito que está, Dilma ganhando ou perdendo precisa rever mais ainda seus rumos. O conjunto da esquerda política no Brasil também. A capacidade organizativa, política, teórica, cultural e estratégica foram abandonadas ao longo dos últimos anos.

MAIS CARAS – As eleições de 2014 serão não apenas as mais duras, mas também as mais caras da história recente: as três principais candidaturas falam de gastos que, somados, atingem 916 milhões de reais. Ao mesmo tempo, o grande capital está reduzindo ao máximo suas contribuições para as campanhas eleitorais, em especial as contribuições para as candidaturas do PT.

EDUCAÇÃO COM QUALIDADE – O Banco Mundial acaba de publicar um relatório revelador sobre a problemática da educação na América Latina e no Caribe. Intitulado “Professores excelentes. Como melhorar a aprendizagem na América Latina e no Caribe”, o estudo analisa os sistemas educativos públicos dos países do continente e os principais desafios que enfrentam. Os conteúdos acadêmicos são inadequados e as práticas ineficientes. Pouco e mal formados, os professores consagram apenas 65% do tempo de aula à instrução, “o que equivale a perder um dia completo de instrução por semana”. Por outro lado, o material didático disponível continua sendo pouco utilizado, particularmente as novas tecnologias de informação e comunicação. Além disso, os professores não conseguem impor sua autoridade, manter a atenção dos alunos e estimular a participação.

CUBA – O Banco Mundial aponta que “na atualidade, nenhum sistema escolar latino-americano, com a possível exceção de Cuba, está perto de mostrar os parâmetros elevados, o forte talento acadêmico, as remunerações altas ou, ao menos, adequadas e a elevada autonomia profissional que caracteriza os sistemas educativos mais eficazes do mundo, como os da Finlândia, Singapura, Xangai (China), da República da Coreia, dos Países Baixos e do Canadá”. (Fonte: Barbara Bruns & Javier Luque, Profesores excelentes. Cómo mejorar el aprendizaje en América Latina y el Caribe, Washington, Banco Mundial, 2014.

PARA REFLETIR:

“As pessoas que expressam a sua fé são cidadãos. E esses cidadãos devem ser ativos na sociedade para ajudar a construir a nação brasileira. Não existe Estado sem cidadão, porque as instituições só existem enquanto existem pessoas. A grande maioria dos brasileiros são pessoas de fé. A religião tem elementos que podem ajudar a construir a sociedade e por isso também a política. … Sem pressão da sociedade não acontecerá reforma política. Para a reforma política existe uma exigência muito grande: não se pode pensar em partido, é preciso ter um amor muito grande pelo Brasil. E mais: é preciso ter uma noção da grandeza da política.”

d. Leonardo Steiner – secretário-geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB),

*Paulo Nailson escreve semanalmente no blog Política de AaZ. No Jornal de Caruaru tem a coluna Cultura e Cidadania e é responsável pelo blog presentiaonline. Atua na Cultura e no meio político.