Opinião – Segurança Pública: Entre o confronto e o abandono – por Oscar Mariano*

Mário Flávio - 31.10.2025 às 11:59h

O Brasil vive uma guerra não declarada. Uma guerra diária, silenciosa e cruel, travada nas esquinas das grandes cidades e nas fronteiras esquecidas pelo Estado. A recente operação policial no Rio de Janeiro, que deixou mais de 120 mortos, é o retrato de um país que já perdeu o controle sobre o próprio território. A ação, que dividiu opiniões entre o combate necessário e o excesso da força, escancara uma verdade incômoda: não há política de segurança pública, há apenas respostas emergenciais a um problema crônico.

Quando a polícia entra atirando, é sinal de que o Estado já saiu há muito tempo. A falta de planejamento, inteligência e integração entre as forças de segurança transforma cada operação em um campo de batalha e cada comunidade em um território de medo. O problema não é apenas policial, é estrutural. O crime organizado se fortalece onde o Estado se ausenta, ocupando espaços que deveriam ser de escolas, empregos e políticas sociais.

E no meio desse cenário desolador, estão as famílias, as verdadeiras vítimas esquecidas dessa guerra. Mães que enterram seus filhos, jovens que perderam o rumo para o tráfico, e pais que vivem com o vazio de uma ausência eterna. Cada vida ceifada pelo crime é uma história interrompida, um futuro arrancado. E o mais doloroso é ver que, mesmo diante dessa dor, ainda há quem tente transformar criminosos em “vítimas da sociedade”, ignorando o sofrimento de quem paga o preço mais alto: as famílias que vivem o luto permanente da violência e da omissão do Estado.

Um exemplo trágico dessa realidade é o que ocorre no Ceará. Cidades inteiras se tornaram reféns de facções criminosas. Em alguns lugares, como o vilarejo de Uiraponga, no sertão do Ceará, moradores foram obrigados a abandonar suas casas, transformando a localidade num local fantasma. A população foge, o comércio fecha, e a presença do poder público se dissolve. O território passa a ter dono e o dono é o CRIME.

Mas o drama não para nas fronteiras do Nordeste. No Norte do país, o crime organizado encontrou um novo e lucrativo negócio: o tráfico humano. Regiões amazônicas e áreas de fronteira se tornaram corredores de exploração, onde mulheres, adolescentes e imigrantes são aliciados e vendidos como mercadoria. É o retrato mais cruel da falência da segurança nacional, um país onde o tráfico de pessoas avança sob o olhar indiferente do poder público.

Enquanto isso, a estrutura nacional de segurança segue fragmentada, sem um comando unificado, sem inteligência integrada e com poucos investimentos em tecnologia e investigação. A resposta ainda é baseada em armas, quando o que falta é estratégia. É preciso uma reforma profunda na segurança pública, que una forças estaduais e federais, modernize os sistemas de informação, fortaleça o combate ao tráfico de armas, drogas e pessoas e, principalmente, que leve o Estado de volta onde ele nunca deveria ter saído.

Não se combate o crime organizado apenas com tiros. Combate-se com Estado presente, com polícia valorizada e preparada, com políticas de prevenção e com um sistema prisional que não funcione como escritório do crime. A tragédia do Rio, o silêncio das cidades fantasmas do Ceará e o horror do tráfico humano no Norte são sinais claros de um país que precisa, com urgência, reestruturar sua segurança ou continuará apenas contando mortos e desaparecidos, e o crime dominando cada vez mais.