No Brasil, a polarização política se transformou em uma espécie de blindagem moral. Para muitos, não importa mais o que é certo ou errado, e sim “quem fez”. Se é do meu partido, do meu líder ou da minha ideologia, fecham-se os olhos, abafam-se os escândalos e, pior, justificam-se os crimes.
Mas corrupção não tem cor partidária. Desvios de recursos públicos não escolhem bandeira ideológica, e a conta sempre chega para o mesmo pagador: o cidadão comum, que vê escolas sucateadas, hospitais sem leitos e estradas em ruínas enquanto bilhões somem nos esquemas de poder. Quem passa pano para corruptos, sejam eles de esquerda ou de direita, acaba se igualando a eles, porque a conivência é a primeira etapa da decadência moral de um povo.
A própria Operação Lava Jato, que revelou o maior esquema de corrupção da história do país, está sendo desmontada por conveniência política. Em vez de fortalecer mecanismos de investigação e punir corruptos com rigor, assistimos à tentativa de reescrever a história para absolver aliados poderosos e varrer para debaixo do tapete bilhões desviados. A mensagem que fica é clara: quem tem influência não presta contas, e a justiça se curva à conveniência.
Enquanto isso, a Polícia Federal deflagra novas operações contra o crime organizado, como o avanço sobre o PCC, revelando conexões perigosas entre facções criminosas e estruturas de poder. Essa realidade expõe que a corrupção não apenas rouba dinheiro público, mas alimenta a violência e fortalece grupos que minam a segurança nacional. Quando o Estado é fraco contra os corruptos, os criminosos de fuzil e terno andam lado a lado, cada um lucrando à sua maneira.
Não se trata de escolher um lado no tabuleiro político. Trata-se de escolher um lado na ética. Aplaudir um corrupto “do seu time” não é diferente de condenar um “do time adversário”: ambos refletem a mesma hipocrisia. Se o Brasil quiser sair do ciclo eterno de escândalos, precisamos deixar de ser torcedores cegos e começar a ser cidadãos vigilantes. Afinal, quem aceita a corrupção como moeda política já fez sua escolha e não é pelo país, é pelo poder. Não perca sua ética para defender a corrupção.
*Oscar Mariano e cientista político
